Mobilidades e Consumos: narrativas e estratégias de resistência à interioridade na raia luso-espanhola
As zonas de fronteira, concebidas como periferia territorial são também periféricas do ponto de vista político e social. Constituem um campo privilegiado para a interrogação do modo como, o reduzido investimento público em zonas do interior contribuiu, por um lado, para perdas populacionais e um gradual esvaziamento de população nestes territórios e, por outro, para o desenvolvimento de comunidades locais resilientes, com ações consequentes no enfrentamento dessa situação. Nesta comunicação, parte da investigação e trabalho de campo que vem sendo desenvolvido há duas décadas em zonas da raia luso-espanhola, pretendo discutir algumas consequências de se viver na periferia, bem como as estratégias colocadas em prática pelas populações para ultrapassarem a sua condição de periféricos. Uma dessas estratégias foi a mobilidade, no caso, a emigração como estratégia de sobrevivência que, em meados do seculo XX, foi a opção de muitos, adensando ainda mais a questão demográfica nas zonas de fronteira. Outra estratégia está relacionada com modo como os consumos dos raianos portugueses se orientaram, preferencialmente, para o outro lado da fronteira, tentando, dessa forma, obviar lacunas persistentes na oferta de produtos e serviços vários, sendo a saúde um dos mais importantes. Em perspetiva estarão dois terrenos etnográficos, a fronteira na rural Beira Interior Norte e no eixo urbano Elvas-Badajoz. Num primeiro momento discuto a questão das mobilidades e sua relação com a fronteira, os seus propulsores e a sua diversidade, no passado e no presente; de seguida o consumo, e o modo como ambos: mobilidade e consumos através da fronteira podem, de modo diferente, nos dois terrenos considerados, ser conceptualizados como tendo uma relação intrínseca com a fronteira e a interioridade e como isso é consequente na persistência da imagem do Estado na periferia um ausente.