O outro lado do Algarve: uma análise exploratória da mortalidade por suicidio entre a população mais velha no sul de Portugal
O suicídio é particularmente caro à Sociologia, não tivesse sido Émile Durkheim um dos primeiros cientistas sociais a manifestar interesse por este fenómeno no séc. XIX. Em Portugal, é uma das dez maiores causas de morte e, em 2020, representava 25,9 óbitos por cada 100 mil habitantes maiores de 85 anos. Contudo, muitos autores chamam a atenção para a eventualidade destes números poderem estar sub-representados.
O objetivo desta comunicação é apresentar, com base nos dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), uma análise exploratória da distribuição da taxa de mortalidade por suicídio por 100.000 habitantes, entre 2014 e 2020, nos subgrupos etários mais envelhecidos da população (65-74; 75-84 e 85+), tendo em conta o sexo e a distribuição geográfica (NUTS 2013) e dando destaque ao Algarve, território cujas estatísticas, por comparação ao Alentejo, não têm despertado a devida atenção científica. É na região mais turística de Portugal que se regista a 2.ª maior taxa de mortalidade por suicídio, sendo que, em 2018, com 16,8 óbitos/100.000 habitantes, chegou mesmo a ocupar o pódio tradicionalmente detido pelo Alentejo (16,1) e a atingir quase o dobro da média nacional (9,6).
Apesar de ser das regiões menos envelhecidas do país, ao contrário do Alentejo, os resultados preliminares mostram que o Algarve tem apresentado uma incidência muito elevada de mortalidade por suicídio entre os maiores de 85 anos, por comparação aos intervalos etários anteriores, e que são os homens as principais vítimas. Enquanto questão de saúde pública, o suicídio entre as pessoas mais velhas, tem sido pouco estudado. Este facto merece uma especial reflexão da nossa parte, se tivermos em consideração que a esperança de vida tem aumentado significativamente e que Portugal é um dos países mais envelhecidos da União Europeia e do mundo e não há sinais que estas tendências se invertam a curto prazo.